Comparando para valorizar
Em 1964 iniciei meu curso de Engenharia em Eletrotécnica no Instituto de Engenharia de Itajubá, IEI.
No estado de Santa Catarina ensaiava-se a criação de cursos de Engenharia.
Passei o ano de 1972 fazendo mestrado na Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, onde defendi minha dissertação em 1974.
Esses dois eventos marcaram minha vida de diversas maneiras, extremamente fortes. Morando em Itajubá, a forma mais eficaz de comunicação com meus pais e minha namorada, esposa a partir de 1966, era via cartas que eu escrevia na esperança de obter resposta em uma semana. Casando, os livros das Edições da Paz, russos, foram a salvação de quem tinha pouco dinheiro para sobreviver com a família recém constituída. No IEI comecei a saber que existiam computadores que poderiam ser usados na Engenharia. Fiz, em 1968, um curso para entender e usar “computadores” analógicos.
Discutíamos se o futuro seria usar computadores analógicos, digitais ou híbridos.
Na Copel ganhei a oportunidade de fazer mestrado em Florianópolis. Ao final de 1971 passei um mês com minha equipe montando um manual sobre os sistemas de controle e automação do compensador síncrono de Campo Comprido para poder me afastar de minhas funções. Os desenhos e textos eram feitos sobre papel vegetal para ser possível tirar cópias de custo menor. Fotografias eram colocadas sob o papel vegetal e copiadas a pena com tinta nanquim. Tudo lento, caro, difícil.
Na UFSC aprendi Fortran, a usar a máquina de perfurar cartões e fazer programas, que maravilha usar aquele computador 1130 que possuía 8 ou 16 kbytes de CPU. Na Copel, 1972, o pessoal se batia para processar os programas de curto circuito, usando a maquininha de fazer contas sempre que possível, tipo moedoras de carne, mecânicas, ou o computador da UFPR, onde, qualquer descuido, significava manter o CPD dedicado durante horas para, ao final, ter-se uma listagens de valiosos números que permitiam ao pessoal de proteção ajustar seus relés em subestações e usinas.
Voltei para uma área de estudos de sistemas de potência fazendo, em paralelo, minha dissertação de mestrado. Felizmente existia um escritório em Curitiba do CCOI através do qual pude mandar quase 100 ofícios a especialistas do mundo inteiro para saber como faziam o “load shedding” em suas terras. Em 6 meses recebi em torno de 50 respostas, tudo em torno da CIGRÉ, cujos livros de “papers”, apresentados em seus congressos em Paris, mostravam as coordenadas de profissionais de altíssimo valor. Garimpando nomes e informações com muita dificuldade consegui a base para o meu trabalho, que estava em sintonia com uma comissão que coordenava no sul do Brasil. Essa dissertação pude fazê-la com mais facilidade porque existia um microcomputador na área de planejamento elétrico da Copel com uma telinha, que mostrava gráficos e possibilitava, com um padrão interativo, criar as tabelas que precisava para demonstrar o que pensava. Meu coordenador em Santa Catarina, Dr. Bantval Vitaldas Baliga esperava minhas visitas para avaliação do trabalho que realizava, comunicação complicada.
A Copel cresceu possibilitando a formação de uma área enorme de processamento de dados. Durante a década de setenta esperávamos o período noturno para processar nossos casos de “load flow” (a partir de 1974), curto circuito e, ao final da década, estabilidade e transientes em sistema elétricos. Que maravilha, aos poucos podíamos materializar em cálculos e simulações teorias que havíamos aprendido, mas que só podiam ser verificadas na observação direta do sistema de energia ou em laboratórios praticamente inacessíveis para nós, instalados em países distantes e de visitação controlada. Nesses laboratórios máquinas em miniatura e redes simuladas podiam, após imenso trabalho, mostrar um pouco do que se poderia esperar dos grandes sistemas elétricos. Isso naturalmente levava à utilização de altos coeficientes de segurança, aumentando investimentos por deficiência de avaliação de desempenho.
A década de oitenta foi de consolidação dos computadores e império da IBM entre nós. O pessoal de estudos ganhava programas de simulação mais elaborados (o cálculo evoluia no sentido das equações matriciais e simulações matemáticas), formava profissionais e sonhava com ferramentas mais eficazes.
Anos 90, a possibilidade de decidir e o surgimento da internet entre nós além do maravilhoso chip 380, sucedido pelo extraordinário 480 foram divisores de água na Engenharia Elétrica. Na Copel pudemos entrar de sola nos programas de gerenciamento e informação corporativos e o pessoal de Engenharia ganhou PCs em suas mesas, além de terminais conectados ao CPD. A intranet foi uma autêntica revolução possibilitando ganhos fantásticos de produtividade. Com certeza a resistência a mudanças existia, afinal muitos chefes estavam acostumados a reter informações, a segurar processos em suas caixinhas de expediente, tinham datilógrafas, usavam extensamente estafetas, carros para entregar e receber ofícios, armários e mais armários para guardar cadernos massudos com estudos que se perdiam entre as traças... sentir que tudo passava a ser eletrônico, digital, cibernético, deu um nó na cabeça dos mais acomodados. Não podemos esquecer também a pompa e circunstância de pessoas que viam no teclado coisa de secretária, ofensiva às suas dignidades. E havia sempre o argumento, meu avô, meu pai, meu antigo chefe fazia assim, por quê mudar?
Felizmente o diretor que os governava havia visitado a Matra, por exemplo, em estágio pela URBS na França.
Nesse período francês dedicado ao transporte coletivo urbano com as dúvidas e desafios do crescimento de Curitiba pude ver o andar da diretoria dessa empresa (Matra) de altíssima tecnologia com apenas uma secretária e, entrando na sala de um de seus diretores, observar sua maneira de trabalhar, dispensando qualquer apoio, mandando fax, usando minitel, telefonando pessoalmente até para marcar passagens. Que diferença de nosso Brasil ainda de mentalidade escravocrata, colonial.
O mundo não pára. Talvez para alguns que vivem da miséria intelectual, a manutenção de lógicas e ideologias do século 19 seja uma condição de auto-estima e sobrevivência. Sobreviver sob os desafios do terceiro milênio, contudo, é algo que depende visceralmente de novas formas de agir, de estudar, de aprender e de se comunicar. Estamos percebendo a gravidade da poluição, a destruição do que sobrou da natureza, os efeitos de comportamentos perdulários, técnicas e maneiras de ser suicidas. Como mudar rapidamente? O que fazer? Usando métodos tradicionais e esperar que dentro de um século nossas escolas tenham padrões adequados ao momento atual?
Acrescentando-se às preocupações de sobrevivência da humanidade, ainda vemos o desafio de melhorar o padrão de cidadania e civismo do povo brasileiro. Com certeza, com raras exceções, existe um espaço enorme de aprimoramento de nossos compatriotas. Temos estatutos, leis, decretos, normas e regras mas respeitamos muito pouco do que se estabelece por absoluta falta de educação ou, quem sabe, por ignorância pura. Um exemplo mais do que evidente é a necessidade de se ajustar nossos padrões de urbanismo aos idosos, aos deficientes clássicos e até às crianças. A violência gratuita contra todos é uma característica de nossas cidades e até nas escolas, onde inúmeros professores estão muito distantes do padrão ético que se esperaria de pessoas com essa denominação.
Falando de respeito ao idoso e ao deficiente tenho muito que dizer por experiência pessoal e familiar. Vivendo num ambiente familiar em que a deficiência auditiva é presente torna-se fácil avaliar a tolerância e disposição de todos em relação à pessoa com alguma restrição, é uma tragédia brutal.
Enfatizando, precisamos reeducar nosso povo.
Maravilhosamente podemos descobrir o potencial da internet crescendo sem parar. Têm vírus? Hackers? Sim, e tudo isso é mais um desafio para a inteligência humana.
O que podemos e devemos fazer?
Ensinar, educar, viabilizar o conhecimento e a profissionalização, o comportamento em sintonia com o século 21. Que ferramentas podemos usar?
Vale a pena mergulhar no mundo dos blogs, dos álbuns de fotografias via internet, orkuts, blogs, slideshows, youtube, visitas virtuais a museus, laboratórios simulados, cursos a distância, on line e off line, literatura técnica atualizada diariamente, etc. Tudo isso usando sistemas mais e mais velozes, monitores fantásticos, mouses sem fio, teclados virtuais, telões, data shows etc. Nossas estantes poderão ser substituídas por pequenas gavetas com pendrives, DVDs e coisas parecidas. Onde estivermos aos poucos teremos acesso aos sistemas de WiFi, coisas desse tipo.
Tudo isso ilustra o potencial de ensino.
Além da possibilidade de se criar cursos a distância, podemos gerar material de apoio inimaginável há poucas décadas. Falta-nos, contudo, uma plataforma adequada, um ambiente brasileiro, funcional, capaz de manter tudo o que a Google oferece, exemplificando, com ajustes para a educação.
Quem se habilita?
Sobre o que seria esse portal sugerimos que tenha o formato de uma biblioteca para “livros”, ou seja, material organizado didaticamente para ensinar matérias formais, existentes em nossos cursos. Evidentemente esses livros deverão explorar o potencial do meio cibernético, agregando filmes, slideshows, álbuns de fotografias, links, opções para deficientes etc.
Cada matéria poderá oferecer mais de um “livro” sobre o mesmo assunto.
O portal teria contrato de acesso e remuneração de direitos autorais, pois esses “livros”, se produzidos com essa vontade pelos autores, podem ser chaveados, ter senhas e controles de utilização.
É extremamente importante a facilidade de acesso, simplificação de apresentação, algo parecido ao que temos nos blogs da blogspot.
João Carlos Cascaes
Curitiba, 09 de outubro de 2008.
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