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terça-feira, 8 de julho de 2008

Sutilezas do EAD e o LTDE

Sutilezas do EAD
O ensino virou uma indústria e a educação se perde na fragilidade de nossas escolas. O Brasil mostra estatísticas vergonhosas e os desafios do terceiro milênio são maiores quando sentimos o grau de despreparo de nossa população. É mais do que evidente o nosso atraso. Qualquer análise mostra cenários deploráveis, principalmente quando os comparamos com os apresentados pelos países mais desenvolvidos, vergonhosos ao nos compararmos a nações semelhantes à nossa.
Precisamos repensar nossos processos de formação de cidadãos e profissionais com urgência, tendo coragem e honestidade intelectual para contestar e propor soluções reais, coerentes com as nossas possibilidades e atentos ao que pretendemos para as gerações que estão se formando, preparando-as para o mercado de trabalho e o convívio social.
A insistência em processos caros, inacessíveis ao nosso povo é condenável diante da gravidade da situação. Precisamos encontrar soluções de baixo custo e eficazes, de aplicação rápida, com capilaridade, capazes de atingir qualquer região de nosso país de dimensões continentais.
A urbanização é um processo inexorável, um impulso natural em que se produz novos comportamentos, demanda soluções inteligentes, ajustes a processos que se exaurem nos excessos praticados.
Naturalmente os brasileiros poderiam optar pela vida nos padrões do século 19, talvez reforçando a reforma agrária e fixando nosso povo no mato. Será esse o nosso ideal de Brasil? Independentemente das visões ideológicas ou estratégicas existentes, é mais do que evidente a necessidade urgentíssima de preparação dos jovens brasileiros para o mercado de trabalho, transmitindo-lhes também conhecimento de comportamentos seguros (higiene, segurança, primeiros socorros etc.) e cidadania de modo geral. A visão de milhares de catadores de lixo nas cidades grandes, de favelas que não param de crescer e a cooptação pelo crime organizado de gente desesperada ou por outras minorias atentas aos miseráveis é uma demonstração da falência do nosso sistema de ensino, que não forma trabalhadores e cidadãos nem para o ambiente rural, muito menos para o urbano.
O presente e o futuro exigem domínio tecnológico, conhecimento profundo dos impactos de qualquer atividade, competitividade, responsabilidade social e racionalidade total. Estamos atrasados e isso é fácil de se ver no desespero de especialistas e lideranças civis quando discutem os problemas do Brasil atual. Não faz sentido falar mal de nosso povo, isso não resolve, o que é mais do que justo e necessário é massificar a educação técnica e comportamental para que se promovam as mudanças em curto prazo.
Os desafios do terceiro milênio exigem ações que estão demorando. Para vencê-los impõe-se um processo gigantesco de formação, educação e apoio contínuo, ao sabor das novidades que vamos descobrindo dia a dia. Ou seja, informação imediata, formação atualizada permanentemente, acessibilidade aos meios de informação e formação, inovação de processos e materiais de consumo no estudo.
Nota-se que mesmo instituições de ensino tradicionais precisam de mudanças. O ensino convencional não está produzindo profissionais como precisamos. O noticiário tem mostrado desastres absurdos, falhas inacreditáveis e acidentes que poderiam ser evitados se nossos profissionais tivessem melhor preparo. Isso atinge todos os níveis de formação, inclusive na área da Engenharia. Sobre essa profissão tivemos um trabalho interessantíssimo organizado dentro do sistema Confederação Nacional da Indústria (CNI) pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL) e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), contendo propostas da iniciativa privada para melhoria e modernização dos cursos de engenharia no Brasil
Vale destacar algumas recomendações e avaliações do O INOVA ENGENHARIA, [documento] de ampla divulgação no ambiente da CNI e Academia:
 As tradicionais aulas expositivas, baseadas no uso intensivo do quadro negro e de exposição verbal de conhecimentos deveriam ser substituídas por sistemas mais eficientes e participativos.
 Deveria ser feito um esforço para a produção de materiais didáticos que lançassem mão de todos os modernos recursos das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), especialmente softwares interativos, filmes em vídeo, etc. (que dentro de um CD, DVD ou pendrive poderá ser o que chamamos de Livro Técnico Didático Eletrônico, desde que organizado de forma a ter qualidade pedagógica e didática, comentário nosso).
 A relevância disso reside no fato de que essas tecnologias potencializam a interação nas aulas, evitando que sejam meras apresentações unidirecionais.
 Deve-se promover, incentivar e difundir intensamente o uso das TICs na educação em engenharia. Isso é essencial por três motivos fundamentais:
1. Primeiro, essas tecnologias favorecem que se substituam aulas massificadas e monótonas por programações individuais de estudos, nas quais o aluno pode participar ativamente do processo educativo, elegendo meios, pesquisando, tomando decisões sobre como quer aprender e o que lhe interessa mais.
2. Em segundo lugar, essa maior autonomia, associada à necessidade de ter mais iniciativa no processo de aprendizagem, é essencial para que o estudante desenvolva uma habilidade que lhe será vital ao longo de toda a sua vida profissional: a capacidade de aprender por conta própria, de ter autonomia para buscar conhecimentos, elemento indispensável para sua atualização constante.
3. Em terceiro lugar, as TICs são um elemento-chave da modernização tecnológica dos processos produtivos. A difusão acelerada dessas novas tecnologias de comunicação e informação vem promovendo profundas transformações na economia mundial e está na origem de um novo padrão de competição, pelas perspectivas de melhoria de produtividade que oferecem. No Brasil, a baixa difusão do uso dessas tecnologias na área industrial representa uma evidente desvantagem das empresas nacionais com relação aos seus concorrentes internacionais.
Naturalmente devemos investir muito em educação. A qualidade de nossas escolas precisa melhorar. Precisamos perguntar, contudo, que tipo de escola?
O ensino convencional possui características extremamente diferenciadas à medida que sobe de nível. Se no primeiro grau lidamos com crianças que precisam de tudo, inclusive da merenda escolar e de abrigo quando os pais estão trabalhando, ao final do segundo grau em diante o aluno vai se transformando em adulto, precisando trabalhar, sustentar sua família, ganhando consciência de sua individualidade e necessidade de ser útil. O cenário se agrava quando o jovem constitui família e precisa trabalhar, diminuindo sua disponibilidade para freqüência a uma escola convencional com suas carteiras, salas, professores fazendo chamada, hora definida até para ir ao banheiro...
No processo convencional temos, ao longo da história, a preocupação de formar pessoas para o exercício militar, clero e operariado. Nessas condições disciplinar foi uma ênfase importantíssima. Pessoas servis, atentas à bajulação do ser superior de plantão era a principal meta. A aristocracia sempre teve alternativa, pois nela procurava-se formar líderes...
Felizmente a evolução da humanidade criou cenários diferentes, viabilizando o culto à liberdade, independência, criatividade, fraternidade e responsabilidade sob direitos e deveres do indivíduo, ente a ser valorizado para se contrapor aos rigores de ambientes mais e mais controlados.
A tecnologia viabiliza sistemas e equipamentos fantásticos. Quem em sã consciência acreditaria, há meio século, que agora teríamos comunicação portátil quase instantânea com qualquer parte do planeta? Aviões e navios gigantescos com tudo o que encontramos dentro deles? Computadores fazendo maravilhas? Tudo isso viabilizando novos processos de trabalho, convivência, ensino, educação etc?
E a consciência de que precisamos racionalizar a nossa maneira de viver sob pena de morrermos asfixiados em gases que liberamos? Deslocando-se em veículos motorizados para lá e para cá, muitas vezes desperdiçando tempo valioso? Desgastando-se, perdendo produtividade? Usando vias que precisam de asfalto, de espaços que fazem falta ao cidadão comum?
Em favor do meio ambiente e da necessidade urgente de se transmitir informações de forma organizada, rápida e eficaz devemos mudar nossos paradigmas de transmissão de conhecimentos, aceitando e potencializando o que nossos garotos já descobriram. A internet veio para ficar e com ela uma coleção de recursos de processamento de informações, tudo se somando às maravilhas dos aparelhos de som, televisão, gravação, fotografia, filmagens etc. Nosso desafio é usar tudo isso de maneira eficaz.
Temos, em princípio, dois cenários importantes: o ensino formal, regulado pelo governo, e o informal, livre e mais acessível ao mercado de trabalho. No primeiro caso o estudante leva anos para chegar ao nível profissional, saindo da escola normalmente com uma base teórica mas sem definições claras de aplicação dos seus estudos. No segundo circuito o ensino passa mais pela condição de treinamento, com a criação de uma base específica, pouco flexível. Entre esses dois extremos poderemos imaginar uma coleção de padrões que serão possíveis e/ou desejáveis, conforme a situação do aluno e do mercado de trabalho.
Em todas as situações notamos a ausência de livros técnicos de boa qualidade e acessíveis à maioria dos estudantes, destacando-se nessa condição negativa aqueles que se apresentam com necessidades especiais, pessoas com alguma espécie de deficiência, sem esquecer a econômica, a mais grave barreira que nossos jovens enfrentam.
O Global Fórum America Latina reforçou-nos a certeza de que o ensino precisa ser reformulado para poder vencer os desafios do século 21. A necessidade urgente de mudança de paradigmas e os ajustes para a reversão da degradação ambiental não podem esperar a conclusão de processos de discussão, avaliação e ação típicos de nossos profissionais convencionais.
Temos que implementar ações emergenciais.
Entre as recomendações do GFAL vimos a necessidade de se reformar o programa de ensino colocando-se com ênfase a sustentabilidade planetária. Ótimo, e o ensino no Brasil? Atende o convencional? Como avançar? Se não fazemos o básico, conseguiremos algo melhor?
Felizmente as oportunidades de mudança são tantas, que ninguém conseguirá impedir a revolução educacional em andamento, seja pela mídia ou em cursos regulares.
Internet, laptops, pendrives, os satélites de comunicação, as fibras óticas, tudo veio para mudar. Invenções e recursos importantíssimos aparecem todo dia. Quando descobrimos que em nossas grandes cidades os alunos perdem mais tempo no trânsito do que em sala de aula, que nossas escolas estão virando pátios de estacionamento e deixando de ter laboratórios, museus e bibliotecas, que inúmeras salas de aula e corredores consomem energia esperando alunos que se dispersam na luta pela vida, que nossos professores raramente acompanham o progresso da ciência, presos que estão a palcos denominados salas de aula, ganhamos a convicção de que insistimos em modelos superados...
O Brasil ainda mostra o desafio de seu gigantismo, a necessidade de se levar o ensino a estudantes dispersos em oito e meio milhões de quilômetros quadrados. Um percentual vergonhoso de jovens carece de atenção, de acessibilidade à cultura, a profissões que precisam para poderem trabalhar e serem úteis à nação.
Agravando tudo não dispomos de literatura técnica suficiente, de boa qualidade, acessível a todos. Os melhores livros são caros, quando existem estão disponíveis nas escolas mais elitizadas e tornam-se alvo de copiadoras que a polícia apreende sempre que o pessoal dos direitos autorais identifica o “crime”.
Temos solução.
Livros técnicos didáticos podem ser expandidos, enriquecidos por filmes, legendas, links, laboratórios virtuais, museus virtuais, tudo isso instalado em pendrives, DVDs ou disponibilizados via internet. Há como produzir material de consulta de boa qualidade, infinitamente melhor do que o oferecido pelos maçudos livros ou apostilas improvisadas. Melhor ainda, inserindo-se merchandising podemos reduzir custos, viabilizando a distribuição àqueles mais pobres em recursos materiais, ricos em potencial de aprendizado.
No GFAL tivemos a honra de ver e ouvir a palestra do Dr. Ram Charan. Este senhor, consultor de empresários e empresas de porte gigantesco, deu-nos referências, conselhos, método para soluções ousadas e adequadas ao nosso terceiro mundo.
Disse Ran Charam: . As empresas podem usar a mente, o raciocínio para projetar sistemas que permitam tornar um produto ou serviço acessível, na base, por exemplo, de 1 dólar. "Não ter dinheiro é uma situação que força a inovação", disse Charan.
Ou seja, podemos e devemos implementar sistemas educacionais compatíveis com os nossos recursos e necessidades. O Ensino à distância aliado à formação de bibliotecas eletrônicas é a base da solução rápida e com certeza eficaz num mundo que precisa aprender a evitar deslocamentos inúteis e desperdícios de toda espécie.
Note-se que via internet podemos implementar material de consulta e cursos que poderão ser atualizados diariamente, serem utilizados por qualquer cidadão que tenha contato com a rede mundial de comunicação, obter “feedback”, interagir com pessoas que, onde quer que estejam, saibam se comunicar na língua da fonte do material de ensino. Melhor ainda, os recursos eletrônicos viabilizam o acesso à informação a pessoas com necessidades especiais. Deficientes auditivos, visuais, físicos e mentais têm por aí a oportunidade de compensar a frieza das salas de aula e a impenetrabilidade de muitos livros (e professores...).
Isso não é novidade no Primeiro Mundo. Não é sem razão que estão à nossa frente anos luz de cultura técnica. Distanciamo-nos à medida que supervalorizamos corporações e os paradigmas de nossos avós. Nesse sentido vale ler, estudar e discutir o livro da Dra. Gina Gulineli Paladino, Empreendimentos Inovadores, relatos de uma jornada na Europa. Nesse livro veremos como os europeus estão à nossa frente. Se isso não bastasse, quem puder deveria ler o artigo da Revista Seleções, “O ensino que veio do céu”, artigo publicado em abril de 1962, mostrando a ousadia e inteligência dos norte americanos,, de quem adoramos tanto falar mal... Até nos EUA o desafio de ensinar não foi vencido plenamente, na auto biografia do Dr. Alan Greenspan, ex presidente do FED – Federal Reserve Bank, o autor destaca a carência de professores em Matemática naquela grande nação, mostrando, aí, que a existência de mestres nas escolas depende muito de um mercado de trabalho mais e mais competitivo.
É hora de mudar. Existem iniciativas. Temos exemplos brasileiros ainda que tímidos. A maioria de nossas escolas, contudo, permanece presa a conveniências comerciais e corporativas.
Em nosso cenário podemos e devemos investir em material e cursos que o estudante possa utilizar em suas horas livres da luta pela sobrevivência. Aulas que possa repetir exaustivamente, que tenha como utilizar ainda que tenha alguma deficiência sensorial, motora e/ou mental. Material que apóie o professor, que lhe dê condições de atualização e aplicação em seus cursos. Que seja acessível a todos, que não dependa de investimentos além da capacidade de nossos professores, alunos e escolas.
O ensino “off line”, assíncrono, livre e contínuo deve ser a nossa meta diante das dificuldades e custos do EAD com salas virtuais, um padrão de ensino excludente à medida que obriga o estudante a sincronizar suas atividades (e orçamento) com a da escola. Diplomas, que sejam dados em provas feitas à semelhança dos exames da OAB, exemplo maravilhoso de inteligência de uma entidade que honra a história de nosso país. Não importa onde o bacharel obteve seu diploma, o fundamental é que seja aprovado no exame da Ordem para poder exercer a profissão de advogado. Perfeito!
Nossas escolas precisam ser reformadas, diminuírem o desperdício de espaços, de energia. Ganhar eficácia tem que ser a grande meta. São templos à inteligência? Que o demonstrem.
Aliás, falou-se muito no GFAL que estamos entrando na fase da Responsabilidade Social, pode ser, com certeza, entretanto, chegaremos ao momento da necessidade de racionalização total; se o ser humano se diz inteligente, está na hora de prová-lo, mudando, entre outras coisas, seus processos de ensino e aprendizado.
Há três séculos a industrialização exigiu modelos de disciplina que eram o sonho dos militares, dos padres e sacerdotes. Disciplina, disciplina e disciplina treinando as crianças, os jovens e os adultos a serem passivos, obedientes, a seguirem como se fossem autômatos para salas de aula, igrejas, quartéis, grandes plantações e fábricas.
Felizmente os tempos mudaram e agora vivemos uma época em que a criatividade é uma qualidade de grande valor e a luta contra hábitos poluidores, inclusive as guerras, é prioridade da humanidade mais consciente dos verdadeiros valores humanos.
É muito difícil para crianças e jovens saudáveis e inteligentes aceitarem a disciplina típica de escolas antigas, onde entrar, rezar, calar e ouvir o mestre era a regra na maioria dos colégios.
Os tempos mudaram. Há algumas décadas alguns educadores partiram para a tese de se promover o estudo orientado em lugar das aulas expositivas. Cá entre nós, “hooo coisa chata” ser obrigado todo dia ou noite ir a algum lugar e ser obrigado a acompanhar aulas nem sempre didáticas, em situações que muitas vezes nem o professor agüenta, ainda mais em nosso país, onde o mestre é um profissional mal pago, não raramente pessimamente apoiado pelas escolas, ministrando aulas para salas heterogêneas em que alunos freqüentemente exaustos se sentam à frente dos professores pensando em uma maneira de pagar a mensalidade ao final do mês e o feijão de seus filhos.
Maravilhosamente podemos mudar os padrões de ensino radicalmente.
Com a Internet e a possibilidade de se criar bibliotecas eletrônicas, laboratórios e museus virtuais podemos multiplicar salas de aula, sem necessidade de transmissão simultânea (solução cara, com todos os defeitos de aula presencial), atingindo a maior parte dos estudantes em potencial de nosso país. Em clubes, salas comunitárias e mesmo em salas de aula isoladas, com o apoio de professores locais, monitores, técnicos em informática etc. há como utilizar DVDs, Internet e outros equipamentos completando um padrão de ensino que poderá ser avaliado em exames periódicos, feitos por bancas independentes.
O fundamental nesse contexto é a existência de portais de alta confiabilidade, cursos auditados, TICs (LTDE) com selo de qualidade, ou seja, aprovados e indicados principalmente pelos empresários urbanos e rurais, por aqueles que precisam de bons profissionais. O estudante é ingênuo e dificilmente dominará esse cenário, precisa ter onde se apoiar. Nada melhor do que a mobilização de entidades patronais para a implementação de pesquisas permanentes de qualidade e custo de cursos EAD e TICs.
Nossas universidades poderão se transformar em locais de encontro entre mestres e alunos, em função de necessidades eventuais, e também em entidades responsáveis pela produção de material didático a ser utilizado dentro dos padrões mais modernos de comunicação. Aqui nos damos o direito de lembrar a qualidade excepcional dos laboratórios do Instituto Eletrotécnico de Itajubá (IEI) quando nele ingressamos em 1964, Escola Federal de Engenharia de Itajubá, EFEI, em 1968. Equipamentos bem projetados em ambientes feitos para o uso dos alunos e professores, eram laboratórios operacionais e não salas para visita de turista ou deleite de PHDs. Não é de graça que essa escola formou tantos profissionais que se destacaram no setor elétrico brasileiro...
Os laboratórios, as boas bibliotecas e os museus são lugares para freqüência física dos alunos mas, quando distantes dos estudantes, têm como serem ajustados a modelos virtuais. A ciência e a indústria sabem fazê-lo, o Vale do Silício que o diga.
Liberar o aluno de freqüência obrigatória a aulas convencionais será extremamente importante para os mais pobres, os estudantes com necessidades especiais, para todos aqueles que por uma razão ou outra tiverem dificuldade de deslocamento para algum lugar fixo, para onde irá com todos os riscos e danos a ele e ao meio ambiente.
O profissional não é uma pessoa que antes de sair para cumprir suas tarefas tem aulas de seus chefes. Talvez uma explicação para a existência de tão grande quantidade de profissionais medíocres seja a forma de criá-los, construídos em escolas disciplinadoras, castradoras, destruidoras da criatividade e, acima de tudo, inibidoras da responsabilidade que o futuro diplomado deverá ter. Ou seja, ele, o estudante, é o principal construtor de sua personalidade e para tanto deverá estudar, independentemente da presença ou não de algum professor à sua frente.
Não é segredo para ninguém que muitas universidades se transformaram em fábricas de diplomas. O problema no Brasil é tão grave que a OAB, como já o dissemos neste artigo, resolveu aplicar exames para habilitar o bacharel a ser advogado. Brilhante solução num país em que falta, acima de tudo, senso de responsabilidade.
Nossa proposta de formação de bibliotecas eletrônicas vem nesse sentido. Além de procurar suprir uma carência monumental de livros técnicos, pretende-se atingir qualquer pessoa disposta a estudar. Paralelamente devemos rever regras e normas escolares. Elas podem ser muito convenientes a determinados tipos de alunos, mestres e empresários do setor educacional, faturando em cima da ignorância de nosso povo, estão, entretanto, atrapalhando a formação de brasileiros que precisam entrar no mercado de trabalho, principalmente as pessoas com necessidades especiais, portadoras de restrições sensoriais, físicas, mentais ou, o que não é raro, uma associação delas.
Nossa convicção é a de que o custo e a pequeníssima oferta de livros técnicos é uma das responsáveis pela diminuição da eficácia do ensino superior no Brasil, país de língua portuguesa, com um mercado nessa área reduzido, se comparado às nações de línguas dominantes. Outra conseqüência natural é a perda de eficácia no exercício de profissões de nível superior, pois a literatura técnica é fundamental e nas condições atuais um privilégio daqueles que têm domínio em línguas estrangeiras e recursos para adquirir os livros que precisarem.
Acreditamos que com a Internet, o espaço web é o ideal para divulgação de obras didáticas, livros feitos para apoio a alunos e professores em suas aulas, mais ainda se esses livros não gerarem custos além da impressão de textos, a critério dos interessados. Denominando-os provisoriamente de LTDEs, esses livros, imaginamos a possibilidade de produzi-los em parceria com as universidades ou, simplesmente, de vê-los implantados dentro de programas institucionais ou empresariais, com potencial comercial.
No Paraná podemos imaginar o potencial de produção de empresas como a SANEPAR, COPEL, CELEPAR e as universidades estaduais, onde centenas de grandes mestres teriam como criar em curto prazo TICs (LTDE) de excelente qualidade, contribuindo, paralelamente, para elevar a imagem de nosso estado no cenário nacional e em países de língua portuguesa, não esquecendo que a tradução para outras línguas é algo muito fácil com os recursos existentes.
Obviamente poderão ser objeto de exploração comercial agregando publicidade e vinculações de interesse empresarial. O fundamental é que a Biblioteca Eletrônica de Livros Técnicos Didáticos - BEletronTD a ser formada com os LTDEs tenha um custo que o estudante e o profissional suportem. Aliás, o LTDE poderia ter uma versão para o estudante e outra para o profissional formado.
Os recursos de comunicação modernos permitem essa nova estratégia de apresentação da literatura técnica, algo absolutamente necessário diante dos desafios do século 21. Literatura em ambiente eletrônico, obras completas e feitas para esse fim, podem ser a base de consulta e estudo dos universitários e profissionais de nível superior.
A maior parte dos estudantes universitários em nosso país é formada por pessoas de capacidade financeira reduzida, com limitações de consulta e de posse de livros técnicos de toda espécie.
Há uma enorme falta de livros bons em língua portuguesa, atualizados, cobrindo as exigências dos cursos regulares de nossas universidades e escolas técnicas. Temos também um ambiente de dificuldades financeiras para o estudante comum além da simples existência de livros. A solução exige uma mudança de paradigmas e a ousadia aliada à capacidade de implementação de soluções modernas e baratas.
Nota-se em livrarias convencionais que o livro técnico não é prioridade. Percebe-se que em suas prateleiras dá-se preferência àquelas obras mais populares. Em prejuízo do estudante e do profissional formado, a carência de fontes de consulta formais, feitas com qualidade didática, é flagrante e preocupante. Nosso país precisa crescer, como avançar sem uma base literária consolidada, atualizada e acessível a todos?
Pode-se registrar que algumas universidades já possuem suas bibliotecas e padrões equivalentes de comunicação, oferecidos exclusivamente a seus alunos.
A criação de uma Biblioteca Eletrônica de Livros Técnicos Didáticos – BeletronTD - em ambiente da web, com LTDEs ofertados sem custo para os acessantes (custos de edição e operação mantidos por inserções de mídia, doações, fundos setoriais, recursos dedicados à cultura etc.) ou oferecidos a preços suportáveis pelos nossos estudantes, é uma forma de universalização da cultura técnica e de garantir uma base mínima de qualidade em literatura técnica em nosso país.
Pode-se, facilmente, criar roteiros para livros que seriam selecionados em concursos ou escolhidos por notória competência dos autores. Os cursos regulares têm para todas as suas cadeiras programas detalhados que podem ser roteiros para elaboração e seleção de contribuições.
Nas escolas as ementas dos cursos são um roteiro perfeito para a edição de livros, condição normalmente atendida dentro das universidades, muitas vezes de forma precária (apostilas, colagens, cópias não autorizadas etc) em prejuízo do público interno e externo (já diplomado, à medida que não se criam condições de acesso à cultura técnica para o profissional já formado).
Entendemos que instituições com as atribuições, o prestígio e a competência das nossas universidades poderão ser instrumentos de projetos a favor da universalização da cultura técnica em nosso país, valorizando, outrossim, sua atuação social e reforçando sua imagem perante o povo brasileiro.
Com ação independente ou em conjunto com outras entidades há como produzir em prazo relativamente curto uma biblioteca de excelente qualidade, ainda que restrita à natureza dos seus profissionais.
É importante lembrar que a Biblioteca Eletrônica de Livros Técnicos Didáticos – BeletronTD será especialmente útil aos deficientes. Sendo livros didáticos sem limitação de tamanho, número de páginas, podendo conter explicações mais detalhadas e apresentação de laboratórios e bibliotecas virtuais (lincadas) serão altamente eficazes no apoio ao estudo, ainda que à distância, se necessário. O LTDE poderá, assim, ser extremamente útil a todos as pessoas com necessidades especiais, desde que produzido de forma adequada.
Aliás, vale uma reflexão sobre o mito da “Inclusão”. De que jeito integrar o aluno com necessidades especiais se a escola, os professores, o material didático, os programas, o sistema de transporte coletivo, as calçadas e a população, enfim, não estão preparados para essa fantasia, sonho, esperança?
É bom enfatizar que livros técnicos são necessários a todos, estudantes e profissionais. As atividades humanas evoluem demandando gente bem preparada para o exercício das muitas profissões existentes.
Concluindo solicitamos o apoio da FIEP, do IEP, CREA-PR, UTFPR, UFPR etc na identificação de uma solução para implementação desse projeto que, temos certeza, dignificará a instituição.

João Carlos Cascaes
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